quinta-feira, 24 de abril de 2008

Programa: introdução

Nos últimos 25 anos a alfabetização escolarizada vem passando por inúmeras mudanças. Assiste-se no campo das políticas públicas, a extensão de direitos educativos a todos independente de idade e a conseqüente democratização do acesso à educação fundamental, especialmente aquela voltada para as crianças de classes sociais que antes não ocupavam os bancos escolares e em situação de vulnerabilidade social.
No campo teórico-metodológico, uma série de estudos e produções sobre a apropriação do sistema alfabético por crianças e adultos e sobre o conjunto de práticas sociais relacionados aos usos, à função e ao impacto da escrita na sociedade passaram a povoar os discursos de pesquisadores, técnicos e educadores. Esses discursos também influenciaram de modo fundamental a produção dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a elaboração de orientações para professores e de materiais didáticos, a organização de sistemas nacionais de avaliação e de formação de professores.
A produção das pesquisas sobre o letramento tem colaborado para reposicionar o papel da linguagem nas sociedades, atualizar sentidos atribuídos à alfabetização e à escolarização. Essa abordagem enfatiza o reconhecimento dos letramentos em esferas sociais nas quais se situam práticas, com funções diversificadas de acordo com os contextos, objetivos que guiam os sujeitos nesses eventos. São práticas compreendidas como meios culturais de utilização da escrita, apontando para a escola e professores a necessária consideração das demandas a que os sujeitos devem responder em diferentes situações de seu cotidiano nos quais a escrita se faz presente e as posições em que se encontram tanto nos eventos como no campo social mais amplo.
Novas demandas têm se colocado para a escola e para os professores que nela atuam, complexificando, especialmente, a atribuição educativa daqueles que se ocupam do processo de alfabetização. Aprender a ler e a escrever, a praticar a leitura e a produzir textos orais e escritos implica saber como funcionam os textos nas diversas práticas socioculturais (Kleiman) e tem sido tomada como importante via para que as pessoas possam transitar com familiaridade entre diversas práticas culturais e em diferentes instituições, conscientes de seus papéis, possibilidades e modalidades de ação.
Conceber dessa forma o papel da escola e da alfabetização acarreta uma série de conseqüências para o desenho de políticas educacionais e para a organização de programas educativos. Aponta para a necessidade da conexão destes com práticas sociais e, em especial, com aquelas que se mostram relevantes e emancipatórias para os estudantes.
Este curso pretende lançar um olhar interdisciplinar para essas questões. Reúne contribuições da sociologia, antropologia, lingüística aplicada, psicologia e educação para estudar, discutir e compreender o que está envolvido no processo de alfabetização e na formação de profissionais da educação que assumem a atribuição educativa de introduzir pessoas no estudo e reflexão sobre a linguagem escrita, na leitura e produção de textos, ampliando seus repertórios em práticas sociais.

Programa: Objetivos

  • apresentar uma proposta de ensino para as primeiras séries, estabelecendo relações entre a oralidade e a escrita (destacando os papéis dessas linguagens no processo de alfabetização) e organizando a progressão das aprendizagens conectando-as necessidades de aprendizagem dos sujeitos da alfabetização;
  • atualizar concepções teórico-metodológicas que apóiem a ação reflexiva e propositiva de professores para lidar com situações de aprendizagem da linguagem oral e escrita nas séries iniciais;
  • promover a compreensão das práticas e eventos de letramento em diversas esferas (principalmente na escola) e os vários mitos, crenças, imagens e valores sobre a escrita que são (re)construídos nesses espaços sociais;
    promover a formação lingüística de professores para promover a compreensão do sistema de escrita bem como a dinâmica de produção, circulação e recepção dos gêneros discursivos em nossa sociedade;
  • favorecer a formação teórica e empírica do professor-alfabetizador, desenvolvendo aprendizagens que possibilitem a identificação de questões que afetam o processo de alfabetização, a busca de soluções por meio da pesquisa e estudo e a produção de propostas de intervenção e inovação de maneira a contribuir para melhorar a qualidade da educação que se oferece.